INCÔMODA VISITA
O vírus me visitou.
Testou os meios receios
E a minha fé.
Prescrutou minhas convicções.
Ombreou-me com meus iguais em medos e angústia.
Fez-me vir vibrações de todas as vontades e potências.
Descortinou diante de mim
A minha incapacidade de avaliar o mistério da existência humana.
Na medida em que me mostrou indiferenças, resistências e descréditos,
Na proporção mesma das incapacidades e descrenças alheias.
A vida é um mistério insondável
E a morte ainda não sabe que fim que dá aos que tiram das diversas cenas.
Que dizer então do universo
Esse infinito amálgama que se confunde com sua própria essência criadora?
O vírus me visitou.
E me fez sentir pena de mim e de toda essa humanidade
Quando volvi os olhos pro que desorganizamos
Da natureza que nos foi presenteada.
E sei que essa pena será não apenas eternizada
Mas transformada numa crescente angústia
Que terá a dimensão crescente da nossa eterna capacidade destrutiva.
(ANTONIO NETO- 23/03/2021)