quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

KÁTIA

                                             (Em um bar no Roque Mendes/1981)

Fiquei indeciso
E nada havia por decidir
Seus doze anos
Seu olhar-brilhar
Seu rosto -
 Maçã cortada ao meio
Seu sorriso -
Salada verde de lábios e dentes
Meus vinte e nove anos
"Ah meus dezesseis anos"!
Meu desejo
Minhas próprias recriminações ao meu desejo.
Minha filha de sete anos
Essa cerveja
Esse amigo conversador que não para
Meus olhos presos
Minha mente comendo seu nome.

Ah! a distancia dos anos e das condições
Ah! desejos inaceitáveis.

DE UMA RONDA

                                                          (Eu, Delegado em Riachuelo - Terra Natal)


O bar se fez silêncio
Sob minha presença/autoridade.
Um copo descuidado cai
E ninguém se dá por conta.
Embriaguez de álcool, fumo
E respeito/despeito.
Tornou-se cemitério de vivos
O bar.

Como se de velas
A fumaça dos cigarros monotoniza
Os cantos úmidos e vazios
Buscados pelos olhares bêbados
E pelas vozes vagarosas e densas:
Agora mudas.

Saio.
Fiquei para sempre
Na noite porre daqueles homens
E nos desejos sonhos
Daquelas mulheres

LEMBRANÇAS

Mergulhado nos sonhos
Brinco as fantasias do passado
Viajando como estranho
Por entre os meus "eus" já vividos.

Fatos e fatos desfilam
Como se nunca tivessem havido
Em vida e verdade -
Distraídas cenas de tempos idos.

Fazem doer as lembranças -
É a saudade.
O presente nunca satisfaz.

Acordo em suspiros e lágrimas
Desfeito e refeito:
Estar vivo é o que importa.

LENALDA

Seu nome me soa suave e bonito
É a carícia indefinida que o pronuncia
É a expectativa definida que o ouve.

Sobrevoas ausente
Sobre essa definição prepotente
E se assenta carinhosamente
Na indefinição reverente.

Só seu nome é o meu presente
Corroendo esse vazio de sua ausência.

E se a pouco e pouco
Se me faz menos conhecida
A muito e muito
Se faz mais admirada.

Que esse muro mágico de cristal
Não seja vulnerável
Como todo milagre.