segunda-feira, 28 de setembro de 2020

RIACHUELO

 


Tuas ruas me foram para os pés

Como são as nuvens para as aves do céu.

Teus becos me traziam as surpresas dos dias

E os temores das noites.

Recebi as bênçãos dos teus respeitáveis velhos

Também as pragas dos que me viam como moleque.

Brinquei os teus loucos de rua

Entre os temores e a algazarra.

Respeitei todos os teus idosos

Também zombei de alguns

Mesmo a custa de alguns cascudos.

Foi numa de tuas humildes ruas

Que vivi um lar

Pleno de bênçãos, amor e fraternidade.

Foi nas tuas humildes  escolas

Que aprendi a grandeza da dedicação

E a importância da coletividade.

Foi sob teus sol e lua

Que vivi os meus primeiros amores

E amarguei minhas primeiras rejeições.

Hoje me debruço nas janelas da tua decadência

De onde assisto falaciosas promessas.

Mas oro todas as noites e todos os dias

Para que renasças das cinzas

E te vejo em meus sonhos

Mergulhada em abundantes alegrias.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

LÁGRIMAS DIVINAS

 


Chegará o dia

Em que novamente ganharemos as ruas

Sem o bafo da morte

A nos causar os calafrios do medo.

Nesse e nos demais gloriosos dias

Espero que nos olhemos

Como nunca antes nos olhamos.

Espero que sintamos pelo outro

O que nunca antes havíamos sentido.

E que não apenas a dor

 Mas também o amor

Sejam compartilhados de forma natural

Como se fossem bens comuns a estreitar todos os laços.

E se assim for

Se for assim que pretendamos caminhar

Se for assim que pretendamos trilhar nossos infinitos caminhos

Até mesmo ELE

Na sua eterna impassibilidade

Deixará verter do céu sobre nossas cabeças

Algumas lágrimas divinas.