(Em um bar no Roque Mendes/1981)
Fiquei indeciso
E nada havia por decidir
Seus doze anos
Seu olhar-brilhar
Seu rosto -
Maçã cortada ao meio
Seu sorriso -
Salada verde de lábios e dentes
Meus vinte e nove anos
"Ah meus dezesseis anos"!
Meu desejo
Minhas próprias recriminações ao meu desejo.
Minha filha de sete anos
Essa cerveja
Esse amigo conversador que não para
Meus olhos presos
Minha mente comendo seu nome.
Ah! a distancia dos anos e das condições
Ah! desejos inaceitáveis.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
DE UMA RONDA
(Eu, Delegado em Riachuelo - Terra Natal)
O bar se fez silêncio
Sob minha presença/autoridade.
Um copo descuidado cai
E ninguém se dá por conta.
Embriaguez de álcool, fumo
E respeito/despeito.
Tornou-se cemitério de vivos
O bar.
Como se de velas
A fumaça dos cigarros monotoniza
Os cantos úmidos e vazios
Buscados pelos olhares bêbados
E pelas vozes vagarosas e densas:
Agora mudas.
Saio.
Fiquei para sempre
Na noite porre daqueles homens
E nos desejos sonhos
Daquelas mulheres
O bar se fez silêncio
Sob minha presença/autoridade.
Um copo descuidado cai
E ninguém se dá por conta.
Embriaguez de álcool, fumo
E respeito/despeito.
Tornou-se cemitério de vivos
O bar.
Como se de velas
A fumaça dos cigarros monotoniza
Os cantos úmidos e vazios
Buscados pelos olhares bêbados
E pelas vozes vagarosas e densas:
Agora mudas.
Saio.
Fiquei para sempre
Na noite porre daqueles homens
E nos desejos sonhos
Daquelas mulheres
LEMBRANÇAS
Mergulhado nos sonhos
Brinco as fantasias do passado
Viajando como estranho
Por entre os meus "eus" já vividos.
Fatos e fatos desfilam
Como se nunca tivessem havido
Em vida e verdade -
Distraídas cenas de tempos idos.
Fazem doer as lembranças -
É a saudade.
O presente nunca satisfaz.
Acordo em suspiros e lágrimas
Desfeito e refeito:
Estar vivo é o que importa.
Brinco as fantasias do passado
Viajando como estranho
Por entre os meus "eus" já vividos.
Fatos e fatos desfilam
Como se nunca tivessem havido
Em vida e verdade -
Distraídas cenas de tempos idos.
Fazem doer as lembranças -
É a saudade.
O presente nunca satisfaz.
Acordo em suspiros e lágrimas
Desfeito e refeito:
Estar vivo é o que importa.
LENALDA
Seu nome me soa suave e bonito
É a carícia indefinida que o pronuncia
É a expectativa definida que o ouve.
Sobrevoas ausente
Sobre essa definição prepotente
E se assenta carinhosamente
Na indefinição reverente.
Só seu nome é o meu presente
Corroendo esse vazio de sua ausência.
E se a pouco e pouco
Se me faz menos conhecida
A muito e muito
Se faz mais admirada.
Que esse muro mágico de cristal
Não seja vulnerável
Como todo milagre.
É a carícia indefinida que o pronuncia
É a expectativa definida que o ouve.
Sobrevoas ausente
Sobre essa definição prepotente
E se assenta carinhosamente
Na indefinição reverente.
Só seu nome é o meu presente
Corroendo esse vazio de sua ausência.
E se a pouco e pouco
Se me faz menos conhecida
A muito e muito
Se faz mais admirada.
Que esse muro mágico de cristal
Não seja vulnerável
Como todo milagre.
domingo, 16 de outubro de 2011
QUE ASSIM SEJA
Que ninguém assista
O momento único de minha despedida.
Se for de dor:
Que seja de uma dor insólita.
Se for de êxtase:
Que seja um êxtase solitário.
Se for de espanto:
Que seja de um espanto frustrado.
Se for indefinido:
Que seja de um acaso incompreensível.
Que nada registre "per seculum"
A última expressão de minha face.
Que a vida alí se negue ou se afirme
Entre paredes que nada ouçam.
Que a morte alí se afirme ou se negue
No tugúrio do qual tanto conhece.
Queria apenas estar apenas só
Como sempre um pouco fui.
O momento único de minha despedida.
Se for de dor:
Que seja de uma dor insólita.
Se for de êxtase:
Que seja um êxtase solitário.
Se for de espanto:
Que seja de um espanto frustrado.
Se for indefinido:
Que seja de um acaso incompreensível.
Que nada registre "per seculum"
A última expressão de minha face.
Que a vida alí se negue ou se afirme
Entre paredes que nada ouçam.
Que a morte alí se afirme ou se negue
No tugúrio do qual tanto conhece.
Queria apenas estar apenas só
Como sempre um pouco fui.
INEXPLICÁVEL
Às vezes
Como um "não-sei-quê"
Irrompe de dentro como um susto
Um "que" de pranto inexplicável.
Pego de surpresa
E já com os olhos úmidos e baços
Quedo-me triste ao acaso incompreensível
Contendo a custo no íntimo de mim
Soluços que tentam explodir.
De que remotos motivos emergiram tais açoites?
Perco-me na busca infrutífera
Em meio ao acervo do que guardo
De tanto que fui de sofrer.
Como um "não-sei-quê"
Irrompe de dentro como um susto
Um "que" de pranto inexplicável.
Pego de surpresa
E já com os olhos úmidos e baços
Quedo-me triste ao acaso incompreensível
Contendo a custo no íntimo de mim
Soluços que tentam explodir.
De que remotos motivos emergiram tais açoites?
Perco-me na busca infrutífera
Em meio ao acervo do que guardo
De tanto que fui de sofrer.
CIDADE NATAL
Todos estavam ali
Mas só seus nomes estavam mantidos:
Seus corpos eram outros
Seus olhos eram outros
Seus sonhos eram outros.
A cidade também estava alí
Mas só seu nome estava mantido:
Suas ruas eram outras
Suas casas eram outras
Seu ar não era o mesmo de tempos outros.
Mas que esperava eu
Tão mudado que também estou
Pelo tempo e pela vida
Que modificou a todos?
Modificou corpos
Que não conhecia desgastes.
Modificou olhos
Que olhavam como bocas famintas.
Transformou sonhos
Em realidades tão pouco nuas
Quanto cruéis.
Mas que esperava eu
Que olvido a trave que me cega os olhos
E que se faz desculpa
Para as lágrimas que não consigo conter.
Mas só seus nomes estavam mantidos:
Seus corpos eram outros
Seus olhos eram outros
Seus sonhos eram outros.
A cidade também estava alí
Mas só seu nome estava mantido:
Suas ruas eram outras
Suas casas eram outras
Seu ar não era o mesmo de tempos outros.
Mas que esperava eu
Tão mudado que também estou
Pelo tempo e pela vida
Que modificou a todos?
Modificou corpos
Que não conhecia desgastes.
Modificou olhos
Que olhavam como bocas famintas.
Transformou sonhos
Em realidades tão pouco nuas
Quanto cruéis.
Mas que esperava eu
Que olvido a trave que me cega os olhos
E que se faz desculpa
Para as lágrimas que não consigo conter.
domingo, 25 de setembro de 2011
RONDA
Visto minha farda noturna
E saio
Pra minha ronda rotina.
Dobro esquinas sujas
Que cheiram
A urina de abandonados
E a fezes
De bebês desidratados.
Vejo -
Mesmo nos cantos vazios
Trapos de gente
Envoltos em trapos.
Olhos fundos e sem brilho
Encravados em crânios sem carnes
Que se mexem numa lentidão agônica.
Vejo uma murcha em concha
Que tateia vazia no vazio.
Ouço mesmo a ladainha dos miseráveis -
"Dá-me uma esmola pelo amor de Deus"-
Que me corta o coração.
Nunca chega esse bar de esquecer que me espera.
E saio
Pra minha ronda rotina.
Dobro esquinas sujas
Que cheiram
A urina de abandonados
E a fezes
De bebês desidratados.
Vejo -
Mesmo nos cantos vazios
Trapos de gente
Envoltos em trapos.
Olhos fundos e sem brilho
Encravados em crânios sem carnes
Que se mexem numa lentidão agônica.
Vejo uma murcha em concha
Que tateia vazia no vazio.
Ouço mesmo a ladainha dos miseráveis -
"Dá-me uma esmola pelo amor de Deus"-
Que me corta o coração.
Nunca chega esse bar de esquecer que me espera.
sábado, 17 de setembro de 2011
VISITA
(Ao meu pai enfermo)
Venho de um par de olhos tristes.
Corri de braços que queriam me abraçar
E estavam inertes.
Deixei num leito triste
Um rio de lágrimas retido
E um mundo de perguntas irrespondíveis.
Venho da casa que me gerou
E que semelha hoje
Despojos de um naufrágio
Que desagua num mar injusto.
Dos muitos olhos que me espreitam
E que me seguem o sombrio passo de fuga
Não sei dos que sabem
O peso da tristeza que carrego.
Venho de um par de olhos tristes.
Corri de braços que queriam me abraçar
E estavam inertes.
Deixei num leito triste
Um rio de lágrimas retido
E um mundo de perguntas irrespondíveis.
Venho da casa que me gerou
E que semelha hoje
Despojos de um naufrágio
Que desagua num mar injusto.
Dos muitos olhos que me espreitam
E que me seguem o sombrio passo de fuga
Não sei dos que sabem
O peso da tristeza que carrego.
SOLIDÃO: PARCEIRA SOMBRIA
É o comum dos meus olhos
O estarem úmidos
E perdidos em pontos indefinidos.
É o comum de minha face
O estar triste.
É o comum de mim
A busca desses recantos insólitos
Onde o silêncio rumina nossas dores
Com o vagar das velhas ampulhetas.
Antes de muito sol e fortes ventos
Os meus dias...
Hoje os faço
De apenas sombras e lembranças.
Buscas que se fizeram tantas
Me apontam esse caminho
Que não sei se escolhi de moto próprio
Mas que parece saudável
A essa parceira sombria que todos rejeitam.
O estarem úmidos
E perdidos em pontos indefinidos.
É o comum de minha face
O estar triste.
É o comum de mim
A busca desses recantos insólitos
Onde o silêncio rumina nossas dores
Com o vagar das velhas ampulhetas.
Antes de muito sol e fortes ventos
Os meus dias...
Hoje os faço
De apenas sombras e lembranças.
Buscas que se fizeram tantas
Me apontam esse caminho
Que não sei se escolhi de moto próprio
Mas que parece saudável
A essa parceira sombria que todos rejeitam.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
SOBRE BA FOFOCA
(Riachuelo, 1980)
Aqui não adianta esconder nada
Há um olho suspenso no ar
Que penetra todos os telhados.
Aquí não adianta cochichar
O vento pega a conversa
E leva de orelha em orelha
E a transforma num grito sem fim.
Aqui não adiante nem ficar calado
Um mistério forma a conversa
E sai a divulgar de canto em canto
Sem qualquer recato.
Precisa é que os poucos homossexuais
Pratriquem seus oficios nos bancos da praça.
Precisa é que as mulheres adúlteras
Traiam seus maridos nos leitos das ruas.
Precisa é que as mocinhas violadas
Expoam seus clitóris deflorados.
Depois é só despedir e carimbar na língua
Os atentos operários da fofoca
E vazar a ponta de faca
Esse olho ambulante que tudo vê.
Aqui não adianta esconder nada
Há um olho suspenso no ar
Que penetra todos os telhados.
Aquí não adianta cochichar
O vento pega a conversa
E leva de orelha em orelha
E a transforma num grito sem fim.
Aqui não adiante nem ficar calado
Um mistério forma a conversa
E sai a divulgar de canto em canto
Sem qualquer recato.
Precisa é que os poucos homossexuais
Pratriquem seus oficios nos bancos da praça.
Precisa é que as mulheres adúlteras
Traiam seus maridos nos leitos das ruas.
Precisa é que as mocinhas violadas
Expoam seus clitóris deflorados.
Depois é só despedir e carimbar na língua
Os atentos operários da fofoca
E vazar a ponta de faca
Esse olho ambulante que tudo vê.
RESUMO
Andei até aqui como se não tivesse andado.
Foram como nuvens e sombras quase tudo que abracei.
Foram como sonhos e ilusões quase tudo que vivi.
Do que aprendi de tudo que passei
Sei apenas da dor de ser imcompreendido
Tanto quanto do prazer de ser às vezes reconhecido.
Me conforta só o estar apto ainda a muito andar
Mas com a certeza do que o não aprender com a vida
Está na essência da minha estrutura anímica.
Mas mesmo assim ainda contemplo a vida
Com os olhos de quem assiste a um espetáculo fantástico.
Porque sei que a eternidade
Me dará tempo para andar conforme se deve.
Ainda assim se me for destino ser eternamente errante
Foi para o eterno equilibrio do todo
Que a divindade assim me destinou.
E nada hei de opor a essa divina vontade.
Foram como nuvens e sombras quase tudo que abracei.
Foram como sonhos e ilusões quase tudo que vivi.
Do que aprendi de tudo que passei
Sei apenas da dor de ser imcompreendido
Tanto quanto do prazer de ser às vezes reconhecido.
Me conforta só o estar apto ainda a muito andar
Mas com a certeza do que o não aprender com a vida
Está na essência da minha estrutura anímica.
Mas mesmo assim ainda contemplo a vida
Com os olhos de quem assiste a um espetáculo fantástico.
Porque sei que a eternidade
Me dará tempo para andar conforme se deve.
Ainda assim se me for destino ser eternamente errante
Foi para o eterno equilibrio do todo
Que a divindade assim me destinou.
E nada hei de opor a essa divina vontade.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
PROMESSA
(Para uma amiga recem-conhecida)
Um dia qualquer
Penetrarei em silêncio
Teus sonhos mais profundos
Para puder desvendar o que guardas
Neste teu íntimo inquieto.
Serei como um cuidadoso artífice
A lidar com jóias delicadas.
Sei que um preguiçoso beija-flor
Ronda tuas viçosas pétalas
Ávidas e sequiosas por longos sugares.
Vejo nos teus olhos
Que brilham faiscas vivas
O quanto em potencial
Guardas no teu doce abismo.
Um dia qualquer
Penetrarei em silêncio
Teus sonhos mais profundos
Para puder desvendar o que guardas
Neste teu íntimo inquieto.
Serei como um cuidadoso artífice
A lidar com jóias delicadas.
Sei que um preguiçoso beija-flor
Ronda tuas viçosas pétalas
Ávidas e sequiosas por longos sugares.
Vejo nos teus olhos
Que brilham faiscas vivas
O quanto em potencial
Guardas no teu doce abismo.
sábado, 20 de agosto de 2011
DIA-A-DIA
Vivo de ruminar saudades
Pelos cantos feitos de silêncio.
Construí uma abóbada impenetrável
Onde guardo minhas inquietudes
Que se alimentam da produção dos insensatos.
Tenho olhos que desdenham o cenário fútil
Onde gravitam cabeças ocas
E se dependuram grotescas fantasias.
Minha cabeça gira lentamente
Com movimentos lentamente cadenciados
A cada fisgada do vitupério humano.
Lágrimas já não as tenho em profusão
Mas apenas o necessário aos olhos
Para mantê-los sempre marejados.
Mãos que espontaneamente buscam-se
Para evocar em preces
Ou espalmam-se para receber o espanto.
Dias e noites sempre assim:
Esse convívio lúdico e intrínseco
Limitado aos recônditos de um ser apenas.
Pelos cantos feitos de silêncio.
Construí uma abóbada impenetrável
Onde guardo minhas inquietudes
Que se alimentam da produção dos insensatos.
Tenho olhos que desdenham o cenário fútil
Onde gravitam cabeças ocas
E se dependuram grotescas fantasias.
Minha cabeça gira lentamente
Com movimentos lentamente cadenciados
A cada fisgada do vitupério humano.
Lágrimas já não as tenho em profusão
Mas apenas o necessário aos olhos
Para mantê-los sempre marejados.
Mãos que espontaneamente buscam-se
Para evocar em preces
Ou espalmam-se para receber o espanto.
Dias e noites sempre assim:
Esse convívio lúdico e intrínseco
Limitado aos recônditos de um ser apenas.
INSÓLITO ENTORNO
Volto ao meu amplo universo de sombras
Onde todos os silêncios se reúnem.
Onde todas as saudades formulam suas versões.
Recolho também nesse insólito entorno
Todos os olhares que vagueiam em busca de motivos.
Todas as lágrimas vertidas sem aparentes motivos.
Todas as súplicas que sobem de mãos unidas.
Não me apiedo desses fiés companheiros:
Não é por piedade que os acolho.
É que nos afinamos tão solidamente
Que nem a eternidade porá fim ao nosso convívio.
Onde todos os silêncios se reúnem.
Onde todas as saudades formulam suas versões.
Recolho também nesse insólito entorno
Todos os olhares que vagueiam em busca de motivos.
Todas as lágrimas vertidas sem aparentes motivos.
Todas as súplicas que sobem de mãos unidas.
Não me apiedo desses fiés companheiros:
Não é por piedade que os acolho.
É que nos afinamos tão solidamente
Que nem a eternidade porá fim ao nosso convívio.
REGISTRO
(Reunião de Planejamento NEFIT - Hotel
da Ilha)
Nada em mim se passa
Simplesmente.
Tudo me invade
Mais do que profundamente.
Todos esses rostos, olhares
Gestos...
Até mesmo os desejos mais ocultos
Ficarão em mim eternamente impressos
E me seguirão como doce acervo
"Ad eternum".
da Ilha)
Nada em mim se passa
Simplesmente.
Tudo me invade
Mais do que profundamente.
Todos esses rostos, olhares
Gestos...
Até mesmo os desejos mais ocultos
Ficarão em mim eternamente impressos
E me seguirão como doce acervo
"Ad eternum".
AS LÁGRIMAS
As lágrimas me vêm e vão
Como se fossem nuvens soltas
Que passeiam um céu desconhecido.
Olhos úmidos como um mar de tristeza
Valorizam cada lágrima
Como tábuas únicas que salvam.
Onde
Esses estranhos motivos
Que incentivam essa minha solidão
Aquosa?
Como se fossem nuvens soltas
Que passeiam um céu desconhecido.
Olhos úmidos como um mar de tristeza
Valorizam cada lágrima
Como tábuas únicas que salvam.
Onde
Esses estranhos motivos
Que incentivam essa minha solidão
Aquosa?
AS PALAVRAS
Não sei das palavras
O que dizem as gramáticas
Apenas.
Sei da sua textura
Do seu cheiro
Do seu gosto
E da sua volubilidade.
A minha palavra não precisa ser sempre lógica
Ou lúcida
Pois que muito mais me encontro
Nos desvãos da errática
Ou nos descaminhos da loucura.
A palavra
Nem sempre precisa mesmo ter som
Já que minha alma
Gosta das que dizem em silêncio.
Quando caçadora atenta
Anda em busca das que calam.
O que dizem as gramáticas
Apenas.
Sei da sua textura
Do seu cheiro
Do seu gosto
E da sua volubilidade.
A minha palavra não precisa ser sempre lógica
Ou lúcida
Pois que muito mais me encontro
Nos desvãos da errática
Ou nos descaminhos da loucura.
A palavra
Nem sempre precisa mesmo ter som
Já que minha alma
Gosta das que dizem em silêncio.
Quando caçadora atenta
Anda em busca das que calam.
domingo, 14 de agosto de 2011
SOU-ME
Velados olhos de censura
Lançam-me
Ao modo excêntrico
Como visto meus atos.
Quem sabe
Desesperados consolos se busquem
Pela impossibilidade de imitá-los.
Ajo assim sem esforço ou cuidado
Mas apenas moldando-me
À verdade de mim
Que insiste em perseguir-me a vida
Quer no momento do êxtase que gozo
Quer no desprezo ao que me desespera.
Sabem-me nada
Os que me cercam o dia
Pois que mesmo eu sei-me pouco.
Sei muito de desejos e de sonhos
De lembranças e de saudades.
Sei da dor amargurada do que não fiz
E da angústia do que não hei de fazer.
Mas sei sobretudo que pouco se me dá
Esse vesgo e enrustido alheio preconceito.
Lançam-me
Ao modo excêntrico
Como visto meus atos.
Quem sabe
Desesperados consolos se busquem
Pela impossibilidade de imitá-los.
Ajo assim sem esforço ou cuidado
Mas apenas moldando-me
À verdade de mim
Que insiste em perseguir-me a vida
Quer no momento do êxtase que gozo
Quer no desprezo ao que me desespera.
Sabem-me nada
Os que me cercam o dia
Pois que mesmo eu sei-me pouco.
Sei muito de desejos e de sonhos
De lembranças e de saudades.
Sei da dor amargurada do que não fiz
E da angústia do que não hei de fazer.
Mas sei sobretudo que pouco se me dá
Esse vesgo e enrustido alheio preconceito.
REGRESSO
(Eu, Delegado em Riachuelo)
Descansa, pára, morre
A euforia da metrópole.
M o n o t o n i a .
É quase solidão e tédio
Esse meu regresso.
O poeta que sufocava
Entre as multidões indiferentes
Sufoca agora
Na indiferença da ausência.
Aqui
Um amigo se distancia por respeito.
Ali
Uma ex-namorada baixa os olhos não-sei-porque.
Acolá
Um inimigo abre os dentes-judas.
Passo.
Cada passo me pesa como chumbo.
Dói:
De não puder descer no passado
E correr com pés leves pelas ruas.
De sorrir e gargalhar e gritar
E de ouvir me chamarem de "muleque".
Descansa, pára, morre
A euforia da metrópole.
M o n o t o n i a .
É quase solidão e tédio
Esse meu regresso.
O poeta que sufocava
Entre as multidões indiferentes
Sufoca agora
Na indiferença da ausência.
Aqui
Um amigo se distancia por respeito.
Ali
Uma ex-namorada baixa os olhos não-sei-porque.
Acolá
Um inimigo abre os dentes-judas.
Passo.
Cada passo me pesa como chumbo.
Dói:
De não puder descer no passado
E correr com pés leves pelas ruas.
De sorrir e gargalhar e gritar
E de ouvir me chamarem de "muleque".
REINÍCIO
Procuro
Entre os escombros
Do que fui
Peças ainda recuperáveis.
E tento
Com as sobras do que restou
Reconstruir-me num ser-início.
Na penumbra
De fumaça e mofo
Penso da impossibildade.
Mas anima-me
O ter a paixão como alma
E a dor
Como razão única do tentar.
Entre os escombros
Do que fui
Peças ainda recuperáveis.
E tento
Com as sobras do que restou
Reconstruir-me num ser-início.
Na penumbra
De fumaça e mofo
Penso da impossibildade.
Mas anima-me
O ter a paixão como alma
E a dor
Como razão única do tentar.
REMINISCÊNCIAS
Como lamento
Ter venerado tanto
Os "vultos" fantasmas
Desta HISTÓRIA ridícula.
Ter perdido tanto tempo
Folheando retratos
E pintando bandeiras e mapas.
Entoando hinos
E comemorando datas inúteis.
Como lamento
Ter tantas "mestras" tolas
Obcecadas pelas sabatinas
E pelos desfiles de "sete de setembro".
Ter nascido num país
Que atoleima crianças
Enquanto mata outras de fome e abandono.
Ter venerado tanto
Os "vultos" fantasmas
Desta HISTÓRIA ridícula.
Ter perdido tanto tempo
Folheando retratos
E pintando bandeiras e mapas.
Entoando hinos
E comemorando datas inúteis.
Como lamento
Ter tantas "mestras" tolas
Obcecadas pelas sabatinas
E pelos desfiles de "sete de setembro".
Ter nascido num país
Que atoleima crianças
Enquanto mata outras de fome e abandono.
sábado, 13 de agosto de 2011
VIDA/MORTE
Mansamente
Com movimentos de serpente
Vai passando a vida.
Sorrateiramente
Sem ser notada pela multidão
Que afoitamente lida.
E por ser matreira no andar
É que tão depressa
Alcança a ponta indefinida -
Morte ou eterna vida?
E lança-se ao desconhecido
Sob o olhar da multidão
Que assiste atônita
Ao mergulho suicida.
E solta-se a lágrima estancada
E rompe o soluço abafado
Daqueles que aceitam mal
O fato que aos olhos salta:
O sêmem da vida
Já traz no seio o gérmen letal.
Com movimentos de serpente
Vai passando a vida.
Sorrateiramente
Sem ser notada pela multidão
Que afoitamente lida.
E por ser matreira no andar
É que tão depressa
Alcança a ponta indefinida -
Morte ou eterna vida?
E lança-se ao desconhecido
Sob o olhar da multidão
Que assiste atônita
Ao mergulho suicida.
E solta-se a lágrima estancada
E rompe o soluço abafado
Daqueles que aceitam mal
O fato que aos olhos salta:
O sêmem da vida
Já traz no seio o gérmen letal.
"MODUS VIVENDI"
Consolo-me das tristezas
Entre paredes brancas
Que me cercam silenciosas
Sob esse teto que me espia
E que me frustra a visão das estrelas
Mas sem me impor limites
Ao que me conduz ao infinito.
Imagino o além das janelas
Como triviais e insípidas ocorrências
Para os que buscam, em vão
Preencher o vazio de suas vidas vazias.
Ouço do meu silêncio o que pretendo
Para a minha alma inquieta.
Tenho as longas horas das noites longas
Para minhas viagens etéreas
Onde revisito tudo que ficou pra trás.
Nenhum ressentimento me assalta o íntimo.
Mas uma compreensão mais profunda
Me diz a cada suspiro ou involuntário soluço
Que isso é tudo e o muito que se pode ter.
Entre paredes brancas
Que me cercam silenciosas
Sob esse teto que me espia
E que me frustra a visão das estrelas
Mas sem me impor limites
Ao que me conduz ao infinito.
Imagino o além das janelas
Como triviais e insípidas ocorrências
Para os que buscam, em vão
Preencher o vazio de suas vidas vazias.
Ouço do meu silêncio o que pretendo
Para a minha alma inquieta.
Tenho as longas horas das noites longas
Para minhas viagens etéreas
Onde revisito tudo que ficou pra trás.
Nenhum ressentimento me assalta o íntimo.
Mas uma compreensão mais profunda
Me diz a cada suspiro ou involuntário soluço
Que isso é tudo e o muito que se pode ter.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
PROFECIA
Se te fazes ouvido do mundo
Anteparo inerte como as pedras
Em relação às ondas.
E acolhe aqui e alí
Nas entranhas de tua compreensão
Todo e qualquer peregrino da existência...
Se não arriscas o passo que muda
E que pode te conduzir
A inesperados caminhos
E pateticamente caminhas
Sobre velhos trilhos...
Se deixas sufocar o grito
Mesmo ante a dor que te fustiga a carne...
É certo que vives uma vida comum
Que faz o alento dos deuses mundanos.
Serás mil vezes aclamado dócil
E não se importarão que tenhas vida para sempre.
Jamais os demônios te perturbarão os sonhos.
Jamais procurarão embargar tuas não-obras.
Viverás construindo um mundo de silêncio
Até que algum indignado rebelde
Tripudie sobre sua fortaleza de espumas.
Anteparo inerte como as pedras
Em relação às ondas.
E acolhe aqui e alí
Nas entranhas de tua compreensão
Todo e qualquer peregrino da existência...
Se não arriscas o passo que muda
E que pode te conduzir
A inesperados caminhos
E pateticamente caminhas
Sobre velhos trilhos...
Se deixas sufocar o grito
Mesmo ante a dor que te fustiga a carne...
É certo que vives uma vida comum
Que faz o alento dos deuses mundanos.
Serás mil vezes aclamado dócil
E não se importarão que tenhas vida para sempre.
Jamais os demônios te perturbarão os sonhos.
Jamais procurarão embargar tuas não-obras.
Viverás construindo um mundo de silêncio
Até que algum indignado rebelde
Tripudie sobre sua fortaleza de espumas.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
AMPLIAÇÃO
(Para Bruna)
A pouco e pouco
Fui-me desnudando diante de ti.
E a real imagem do que sou
Foi-se desanuviando diante de teus olhos atônitos.
E o espanto que costuma ser como um repente
Fê-se um espanto construido com o rítmo dos atos.
O beijo não era tão mais suave como antes:
Era como uma busca ávida como de abutre faminto.
E os olhos que desciam lento e suave o corpo sutil
Era como de um lúbrico vampiro.
Quase um pranto abrupto quis nascer
Como deveria ter sido abrupto o espanto.
Mas a dor da decepção soube se conter.
E não se sabe o que mais restou.
Talvez apenas a certeza em plagiando o poeta:
De perto é tudo animal.
A pouco e pouco
Fui-me desnudando diante de ti.
E a real imagem do que sou
Foi-se desanuviando diante de teus olhos atônitos.
E o espanto que costuma ser como um repente
Fê-se um espanto construido com o rítmo dos atos.
O beijo não era tão mais suave como antes:
Era como uma busca ávida como de abutre faminto.
E os olhos que desciam lento e suave o corpo sutil
Era como de um lúbrico vampiro.
Quase um pranto abrupto quis nascer
Como deveria ter sido abrupto o espanto.
Mas a dor da decepção soube se conter.
E não se sabe o que mais restou.
Talvez apenas a certeza em plagiando o poeta:
De perto é tudo animal.
MARCA
Não me leve aos lábios
Como uma bebida qualquer.
Eu quero deixar
Uma lembrança eterna em seu ser
Nesse ato simples de beijar.
Não me tome nos braços
Como a um fardo qualquer.
Eu quero deixar
Um calor eterno no seu corpo
Nesse ato simples de abraçar.
Como uma bebida qualquer.
Eu quero deixar
Uma lembrança eterna em seu ser
Nesse ato simples de beijar.
Não me tome nos braços
Como a um fardo qualquer.
Eu quero deixar
Um calor eterno no seu corpo
Nesse ato simples de abraçar.
MEDITANDO
Minha alma mais se nutre no silêncio
Onde se põe calma e mansa
A perscrutar o íntimo de mim.
No caminho inverso dos meus atos
Palmilho cada sílaba vivida
Decodificando seus intricados símbolos
Formulando o teorema óbvio do meu eu.
Vejo-me na inteireza do meu ser
Transparente e simples como tudo
Incompreensível, entretanto
Se cuido de procurar razões a ermo.
Ao fim de tudo, curvo-me
Postas as mãos na prece que anima.
E vejo a Deus - verdade pura
De quem fui mesmo antes do início
E de quem serei eternamente
Mesmo após toda consumação.
Onde se põe calma e mansa
A perscrutar o íntimo de mim.
No caminho inverso dos meus atos
Palmilho cada sílaba vivida
Decodificando seus intricados símbolos
Formulando o teorema óbvio do meu eu.
Vejo-me na inteireza do meu ser
Transparente e simples como tudo
Incompreensível, entretanto
Se cuido de procurar razões a ermo.
Ao fim de tudo, curvo-me
Postas as mãos na prece que anima.
E vejo a Deus - verdade pura
De quem fui mesmo antes do início
E de quem serei eternamente
Mesmo após toda consumação.
AH! A POESIA...
(Para Antonio Sobrinho)
Há que descer tão fundo
Até mesmo onde o próprio poço
Sinta a vertigem.
O "não" há que se assustar
Da veracidade de sua negação absurda.
Tudo precisa ser
Mais profundamente "do que".
Assim se deve fazer a poesia
Marcando cada linha -
Verso, se assim queiram
Com a força que supere a força.
Para que cada dor ou prazer
Subvertidos em êxtase
Se expliquem
Diante de atônitos embevecidos.
Há que descer tão fundo
Até mesmo onde o próprio poço
Sinta a vertigem.
O "não" há que se assustar
Da veracidade de sua negação absurda.
Tudo precisa ser
Mais profundamente "do que".
Assim se deve fazer a poesia
Marcando cada linha -
Verso, se assim queiram
Com a força que supere a força.
Para que cada dor ou prazer
Subvertidos em êxtase
Se expliquem
Diante de atônitos embevecidos.
domingo, 7 de agosto de 2011
A SOLIDÃO
Às vezes a solidão
É o único ponto de ajuste
Justo recurso de quem quer apenas
Sofrer consigo.
Lugar quente e único
Onde se recolhe encolhido
Seu certo e inevitável amigo -
Você.
Lugar único e úmido
Onde se esconde e se oprime
Seu inevitável inimigo -
Você.
Estar só
É estar esquadrinhando seus escaninhos.
Revendo seus próprios caminhos.
Caminhando intrinsecamente
Os recônditos de seus limites.
É o único ponto de ajuste
Justo recurso de quem quer apenas
Sofrer consigo.
Lugar quente e único
Onde se recolhe encolhido
Seu certo e inevitável amigo -
Você.
Lugar único e úmido
Onde se esconde e se oprime
Seu inevitável inimigo -
Você.
Estar só
É estar esquadrinhando seus escaninhos.
Revendo seus próprios caminhos.
Caminhando intrinsecamente
Os recônditos de seus limites.
ADEUS
Nada me marcou tanto
Quanto aquele par de lágrimas
Que te umideceram os olhos
E não quis rolar
Intimidado pela opressão fria
Do meu frio olhar de adeus.
Tua voz jazia
No colo dos teus lábios trêmulos
Temendo ferir tua emoção.
Teu rosto era a máscara do silêncio
Mas preconizava
Uma explosiva convulsão.
Tua esperança cansada
Batia asas carregando os sonhos
Que tua alma em devaneios
Fazia desfilar
Diante da minha indisfarçável indiferença.
Perdôa-me por me haver cansado
De ser parasita do teu sincero amor.
Quanto aquele par de lágrimas
Que te umideceram os olhos
E não quis rolar
Intimidado pela opressão fria
Do meu frio olhar de adeus.
Tua voz jazia
No colo dos teus lábios trêmulos
Temendo ferir tua emoção.
Teu rosto era a máscara do silêncio
Mas preconizava
Uma explosiva convulsão.
Tua esperança cansada
Batia asas carregando os sonhos
Que tua alma em devaneios
Fazia desfilar
Diante da minha indisfarçável indiferença.
Perdôa-me por me haver cansado
De ser parasita do teu sincero amor.
A GRANDE COLHEITA
Não gosto quando meus amigos adoecem.
Não apenas por eles em si
Mas pelos mundos que os cercam
De tantas necessidades, prisões e conflitos.
Bem assim não sofrerei apenas por mim
Quando me sentir partindo.
Mas por esses mundos, também assim
De tantas necessidades, prisões e conflitos.
É que tanto eles, quanto eu
Quando por ventura formos indo
Estaremos como que passeando
Na nossa grande roça.
Aquela em a qual nos dedicamos
Bem ou mal, dia após dia
E em a qual faremos a nossa grande colheita.
Não apenas por eles em si
Mas pelos mundos que os cercam
De tantas necessidades, prisões e conflitos.
Bem assim não sofrerei apenas por mim
Quando me sentir partindo.
Mas por esses mundos, também assim
De tantas necessidades, prisões e conflitos.
É que tanto eles, quanto eu
Quando por ventura formos indo
Estaremos como que passeando
Na nossa grande roça.
Aquela em a qual nos dedicamos
Bem ou mal, dia após dia
E em a qual faremos a nossa grande colheita.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
`AS MULHERES
(Uma brincadeira -No seu Dia
Internacional)
Sejam marias, joanas, anitas, alices...
Ou qualquer rótulo
Que vistam suas misteriosas
Identidades...
Sejam tolas, loucas, lúcidas, violentas
Ou mesmo sádicas ou masoquistas...
Importa menos o que pretendam ser
Do que, em verdade
O que povoam seus mais sinceros desejos.
Quero-as assim
Envolvidas em seus mistérios
Que menos me interessam
Do que o que posso usufruir
Quando, abstraídas de tudo
Queiram colocar-se ao dispor
Das minhas inesperadas loucuras.
Internacional)
Sejam marias, joanas, anitas, alices...
Ou qualquer rótulo
Que vistam suas misteriosas
Identidades...
Sejam tolas, loucas, lúcidas, violentas
Ou mesmo sádicas ou masoquistas...
Importa menos o que pretendam ser
Do que, em verdade
O que povoam seus mais sinceros desejos.
Quero-as assim
Envolvidas em seus mistérios
Que menos me interessam
Do que o que posso usufruir
Quando, abstraídas de tudo
Queiram colocar-se ao dispor
Das minhas inesperadas loucuras.
NOITE LONGA
("Puedo escribir los versos
mas tristes esta noche".
Pablo Neruda)
Esta é uma noite longa
Noite cheia de dias e noites
Que se prolonga meses e meses
Sem pressa nenhuma.
Esta é uma noite longa
Desceram todas as estrelas ao meu leito
E eu subi sozinho ao firmamento -
Estrela apagada.
Esta é uma noite longa.
Fugiram-me os sonhos do sono
E me rondam a realidade
Como pesadelos.
Esta é uma noite longa.
Noite de todas as solidões
E de todos os silêncios
E de todas as angústias.
Esta é uma noite longa
Que me perseguirá...
Até a morte?
mas tristes esta noche".
Pablo Neruda)
Esta é uma noite longa
Noite cheia de dias e noites
Que se prolonga meses e meses
Sem pressa nenhuma.
Esta é uma noite longa
Desceram todas as estrelas ao meu leito
E eu subi sozinho ao firmamento -
Estrela apagada.
Esta é uma noite longa.
Fugiram-me os sonhos do sono
E me rondam a realidade
Como pesadelos.
Esta é uma noite longa.
Noite de todas as solidões
E de todos os silêncios
E de todas as angústias.
Esta é uma noite longa
Que me perseguirá...
Até a morte?
ANGÚSTIA
Não te posso curar
Se não te conheço a causa.
Se não sei em que ponto estais
Dentro de mim.
Só sei que a tua presença
Me põe triste
Me tira o gosto do presente
Me aniquila.
Sois a fome insaciável
A sede que não se mata
O silêncio inquieto
O grito que não se abafa.
Sois o desejo impossível
Inimigo que não se abate
Agonia infinita
Morte lenta que nunca mata.
Se não te conheço a causa.
Se não sei em que ponto estais
Dentro de mim.
Só sei que a tua presença
Me põe triste
Me tira o gosto do presente
Me aniquila.
Sois a fome insaciável
A sede que não se mata
O silêncio inquieto
O grito que não se abafa.
Sois o desejo impossível
Inimigo que não se abate
Agonia infinita
Morte lenta que nunca mata.
POEMA DE PENA
(Riachuelo, cidade agonizante -1980)
Anos, homens e desenganos
Passam
Na rua sem fim da cidade finda.
Tudo parece espreguiçar-se
E nenhuma vida parece ter mais vida.
Há um clima de pasto vazio
E uma agonia de profundo silêncio.
Talvez um grito, uma explosão
Ou quem sabe, um soluço...
Fizesse mudar a face da cidade morta.
Há uma vontade de Adeus
Em cada olhar que olha.
Há um presentimento de saudade
Mesmo nesse palco de nostalgia.
Há alguém que chora como um louco
No seu sonho de pranto proibido.
Passa uma procissão de fantasmas
E o sino da igreja parece estar gemendo.
Anos, homens e desenganos
Passam
Na rua sem fim da cidade finda.
Tudo parece espreguiçar-se
E nenhuma vida parece ter mais vida.
Há um clima de pasto vazio
E uma agonia de profundo silêncio.
Talvez um grito, uma explosão
Ou quem sabe, um soluço...
Fizesse mudar a face da cidade morta.
Há uma vontade de Adeus
Em cada olhar que olha.
Há um presentimento de saudade
Mesmo nesse palco de nostalgia.
Há alguém que chora como um louco
No seu sonho de pranto proibido.
Passa uma procissão de fantasmas
E o sino da igreja parece estar gemendo.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
AMORES E AMORES
(Para um amigo que ama incondicionalmente)
Não consigo volver os olhos
Da imagem tua
Nem turvá-la
Com as máculas banais
Vistas por olhos comuns.
A pureza da tua imagem
Eu guardo sempre, desde sempre
E para sempre.
Murmuram aqui e ali
Sobre uma tolice
Que dizem possuir-me.
Riem até às costas minhas
E outros até se apiedam.
Não é minha nem tua a culpa
Que a vida
Insensata como sempre
Tenha conspirado
Contra nossa harmonia.
E que os pulsos
E os anseios carnais
Tenham conturbado
A nossa perfeita intimidade.
Aliás, eterna minha!
É que eles são tolos
E não sabem
Que existem amores e amores.
Não consigo volver os olhos
Da imagem tua
Nem turvá-la
Com as máculas banais
Vistas por olhos comuns.
A pureza da tua imagem
Eu guardo sempre, desde sempre
E para sempre.
Murmuram aqui e ali
Sobre uma tolice
Que dizem possuir-me.
Riem até às costas minhas
E outros até se apiedam.
Não é minha nem tua a culpa
Que a vida
Insensata como sempre
Tenha conspirado
Contra nossa harmonia.
E que os pulsos
E os anseios carnais
Tenham conturbado
A nossa perfeita intimidade.
Aliás, eterna minha!
É que eles são tolos
E não sabem
Que existem amores e amores.
PERMISSIVIDADE
Os notívagos morrem aos poucos
Em agonia de luz.
Invadiram a intimidade da noite.
Todos os olhos se saciam
E o escândalo agoniza ferido de morte.
Em agonia de luz.
Invadiram a intimidade da noite.
Todos os olhos se saciam
E o escândalo agoniza ferido de morte.
PLATÔNICO
Gosto de beber calado
Este teu desejo anônimo.
Gosto de te desejar
Sem puder confessar
- Senão com os olhos.
Gosto de saber-te minha
Sem jamais haveres dito
Senão com os olhos.
Gosto desse nosso diálogo de silêncio
Que só os olhos e os desejos sabem travar
Com todas as palavras.
Gosto de saber-te inquieta
Na tua aparência tranquila.
Gosto desta mútua prisão
Que confina nossas melhoras palavras
E frustra nossos corpos
Dos nossos melhores prazeres.
Este teu desejo anônimo.
Gosto de te desejar
Sem puder confessar
- Senão com os olhos.
Gosto de saber-te minha
Sem jamais haveres dito
Senão com os olhos.
Gosto desse nosso diálogo de silêncio
Que só os olhos e os desejos sabem travar
Com todas as palavras.
Gosto de saber-te inquieta
Na tua aparência tranquila.
Gosto desta mútua prisão
Que confina nossas melhoras palavras
E frustra nossos corpos
Dos nossos melhores prazeres.
TALVEZ...
Talvez te tenha amado
Como um projeto de infinitude
Que não começa e nem termina.
Talvez te tenha admirado
Mas apenas tão profundamente
Como a uma luz de raio:
Do qual não se sabe o que destruiu
Na sua vertiginosa descendência.
Sei que haverá sempre uma lágrima
Para homenagear tua boa lembrança.
Também um sorriso descorado
Desses que não se sabe
Porque desfiguram nossas faces:
Para lamentar tua inata indiferença
BRUNA
Menina
Quando olha distraida
Sem o pensar da realidade.
Apenas
Como quem vê o simples e belo
De tudo que a cerca.
Madura
Quando pensa e fala
Da profundidade
Do que lhe é adverso.
Doce
Porque se entrega como quem quer.
Como quem achou descanso e consolo
Em quem lhe abraça.
Como quem mergulha leve
No poço cálido de quem lhe beija.
Quando olha distraida
Sem o pensar da realidade.
Apenas
Como quem vê o simples e belo
De tudo que a cerca.
Madura
Quando pensa e fala
Da profundidade
Do que lhe é adverso.
Doce
Porque se entrega como quem quer.
Como quem achou descanso e consolo
Em quem lhe abraça.
Como quem mergulha leve
No poço cálido de quem lhe beija.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
AMOR
É um nasce que nasce
E eis que já desponta
A primeira pétala:
Cor de rosa
Cor da verdadeira rosa.
E vem de brincar
Com a minha paz
Tão branca
Tão mansa
Tão paz.
Preguiça de sofrer
Me deixa alheio a cor tão vida.
Desejo de sentir
Me torna inquieta
A alma carente.
E um perfume leve
Me envolve
Me instiga
E já não se suporta mais.
Rosa?
Amor?
Martírio?
Que tenho eu a desfolhar
Entre meus dedos inquietos?
E eis que já desponta
A primeira pétala:
Cor de rosa
Cor da verdadeira rosa.
E vem de brincar
Com a minha paz
Tão branca
Tão mansa
Tão paz.
Preguiça de sofrer
Me deixa alheio a cor tão vida.
Desejo de sentir
Me torna inquieta
A alma carente.
E um perfume leve
Me envolve
Me instiga
E já não se suporta mais.
Rosa?
Amor?
Martírio?
Que tenho eu a desfolhar
Entre meus dedos inquietos?
AVES IDÉIAS
As idéias não encontram espaço
Nem mesmo no vazio dos cantos frios
Das mentes que se fizeram mortas
Por verem morta a razão.
As idéias fogem dos túmulos.
E os acontecimentos
Com medo do milagre
Mutilam o cadáver da razão.
É que a razão às vezes ressuscita.
Cai um dilúvio de palavras
E o cadáver da razão morre de novo
Desta vez se fazendo pedra
Que esmaga as mãos mutiladoras.
As chagas às vezes se fazem calos de pedra.
Mas as idéias amanhã
De tanto voarem a esmo
Se farão aves
Que acharão deleite naquela pedra tosca.
E não há razão mesmo de pedra
Que permaneça morta
Sob os pés leves das aves-idéias
Nem mesmo no vazio dos cantos frios
Das mentes que se fizeram mortas
Por verem morta a razão.
As idéias fogem dos túmulos.
E os acontecimentos
Com medo do milagre
Mutilam o cadáver da razão.
É que a razão às vezes ressuscita.
Cai um dilúvio de palavras
E o cadáver da razão morre de novo
Desta vez se fazendo pedra
Que esmaga as mãos mutiladoras.
As chagas às vezes se fazem calos de pedra.
Mas as idéias amanhã
De tanto voarem a esmo
Se farão aves
Que acharão deleite naquela pedra tosca.
E não há razão mesmo de pedra
Que permaneça morta
Sob os pés leves das aves-idéias
terça-feira, 26 de julho de 2011
BRANCAS
(Dona Jacira)
Firmes e brancas e longas
Cruzadas elegantes sob o birou:
Olhos atentos vigiavam
Seus movimentos sublimes
- Doce pecado.
Esguias e brancas e firmes
Conduzindo a cadência exuberante
Dos quadris
Na religiosa viagem matinal
Pelas ruas de nossa escola.
Longas e brancas e unidas
Deixaram as viagens da vida
E ganharam tragicamente
A eternidade das lembranças.
Firmes e brancas e longas
Cruzadas elegantes sob o birou:
Olhos atentos vigiavam
Seus movimentos sublimes
- Doce pecado.
Esguias e brancas e firmes
Conduzindo a cadência exuberante
Dos quadris
Na religiosa viagem matinal
Pelas ruas de nossa escola.
Longas e brancas e unidas
Deixaram as viagens da vida
E ganharam tragicamente
A eternidade das lembranças.
A LIBERDADE E SEU TEMPO
Pensam ser a liberdade apenas
jovem:
A atiçar anseios juvenis,
A pintar de cores exuberantes
As cenas e os dias comuns.
A emitir lancinantes gritos
Nos ambientes mais selpulcrais.
A dourar verdes sonhos
e desejos.
A liberdade não é estacionária
no tempo.
Ela caminha lado a lado com a
opressão
Tentando avivar-lhe os sentidos
moucos.
A liberdade é assim como o olhar
de Deus.
Que não se desprega nunca dos
oprimidos,
Muito menos dos opressores.
jovem:
A atiçar anseios juvenis,
A pintar de cores exuberantes
As cenas e os dias comuns.
A emitir lancinantes gritos
Nos ambientes mais selpulcrais.
A dourar verdes sonhos
e desejos.
A liberdade não é estacionária
no tempo.
Ela caminha lado a lado com a
opressão
Tentando avivar-lhe os sentidos
moucos.
A liberdade é assim como o olhar
de Deus.
Que não se desprega nunca dos
oprimidos,
Muito menos dos opressores.
sábado, 23 de julho de 2011
ANINHA
(Uma aluna)
Sei que estive guardado
Por trás de tuas retinas
Como um sonho irrealizável.
Fui alimento diário de tua esperança
Enquanto fui presente com minhas maneiras.
Saibas que te guardo
Como presa que não abati
Da forma igual como me guardas
Como caçador
Que se apiedou de abater a presa
Apenas por mórbidos prazeres.
Sei que estive guardado
Por trás de tuas retinas
Como um sonho irrealizável.
Fui alimento diário de tua esperança
Enquanto fui presente com minhas maneiras.
Saibas que te guardo
Como presa que não abati
Da forma igual como me guardas
Como caçador
Que se apiedou de abater a presa
Apenas por mórbidos prazeres.
ANSEIO
Não te quero
Rondando à minha volta
Como se me quizesse sempre
Dentro de você.
Não quero ter que estar
Em qualquer lugar determinado.
Não preciso nada ter
Muito menos a posse de qualquer ser.
Quero apenas o pleno domínio
Dos limites de mim
E a liberdade dos meus desejos.
Também em alguns ótimos momentos
Quero a paz dos meus sentidos.
Rondando à minha volta
Como se me quizesse sempre
Dentro de você.
Não quero ter que estar
Em qualquer lugar determinado.
Não preciso nada ter
Muito menos a posse de qualquer ser.
Quero apenas o pleno domínio
Dos limites de mim
E a liberdade dos meus desejos.
Também em alguns ótimos momentos
Quero a paz dos meus sentidos.
CRIANÇAS QUE EU CONHEÇO
Crianças que eu conheço
Elas não sabem sorrir
Também não sabem chorar
Trazem na face um enígma
Difícil de decifrar
Um misto de sorriso e pranto
Um quê de desencanto
Um porquê do não achar.
Crianças que eu conheço
Elas não sabem querer
Não tem sonhos de infância
Existem porém sem viver
São pequenos fardos do mundo
Habitantes dos submundos
Passageiras do tempo
Filhas dos contratempos.
Crianças que eu conheço
Elas não sabem brincar
São voluntárias sem nome
De um exército pitoresco
O grande exército da fome.
Elas não sabem sorrir
Também não sabem chorar
Trazem na face um enígma
Difícil de decifrar
Um misto de sorriso e pranto
Um quê de desencanto
Um porquê do não achar.
Crianças que eu conheço
Elas não sabem querer
Não tem sonhos de infância
Existem porém sem viver
São pequenos fardos do mundo
Habitantes dos submundos
Passageiras do tempo
Filhas dos contratempos.
Crianças que eu conheço
Elas não sabem brincar
São voluntárias sem nome
De um exército pitoresco
O grande exército da fome.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
DESNOITE
Uma vez
A noite se fez dia na aparencia
Para mostrar algumas diferenças
Que se escondem sob o seu negro manto.
E em todos os rostos
Se estampavam o espanto
Ao verem verdades e mentiras
Desfilando nuas pelas ruas.
Muitas crenças e descrenças
Foram demolidas ou formadas.
Muitos encapuçados vagabundos
Foram lançados ao ridículo do mundo.
Muitas damas foram desclassificadas
E mais meretrizes foram batizadas.
Fê-se noite novamente
Apenas com o negror dos escândalos.
A noite se fez dia na aparencia
Para mostrar algumas diferenças
Que se escondem sob o seu negro manto.
E em todos os rostos
Se estampavam o espanto
Ao verem verdades e mentiras
Desfilando nuas pelas ruas.
Muitas crenças e descrenças
Foram demolidas ou formadas.
Muitos encapuçados vagabundos
Foram lançados ao ridículo do mundo.
Muitas damas foram desclassificadas
E mais meretrizes foram batizadas.
Fê-se noite novamente
Apenas com o negror dos escândalos.
HOMEM COMUM
Homens comuns
Não são os que desfilam anônimos
Vestidos, calçados e despreocupados
Pelas ruas.
Nem são também aqueles
Que não sabem pensar
Porque não fazem por sentir.
Ou que não sabem chorar
Porque não fazem por sofrer.
No mínimo esses parecem ser
Homens incomuns ou semi-homens.
O homem comum
É o que se engaja ao parceiro
Como o boi que se engaja na parelha
Para puxar o carro carregado.
Como a formiga que se engaja às companheiras
Para conduzir a barata morta.
O homem comum
É o que não deixa morrer a sua idéia
Que nasceu livre
E que nunca frustra a sua causa
Quando promete bons efeitos.
A esse homem
Que os outros lhe turbam a qualificação
E lhe distorcem a peculiar figura
É permitido sofrer e honroso chorar
Pois não lhe é proibido sentir.
Não são os que desfilam anônimos
Vestidos, calçados e despreocupados
Pelas ruas.
Nem são também aqueles
Que não sabem pensar
Porque não fazem por sentir.
Ou que não sabem chorar
Porque não fazem por sofrer.
No mínimo esses parecem ser
Homens incomuns ou semi-homens.
O homem comum
É o que se engaja ao parceiro
Como o boi que se engaja na parelha
Para puxar o carro carregado.
Como a formiga que se engaja às companheiras
Para conduzir a barata morta.
O homem comum
É o que não deixa morrer a sua idéia
Que nasceu livre
E que nunca frustra a sua causa
Quando promete bons efeitos.
A esse homem
Que os outros lhe turbam a qualificação
E lhe distorcem a peculiar figura
É permitido sofrer e honroso chorar
Pois não lhe é proibido sentir.
O QUE SOU
Não sou poeta de regras fixadas
Nem trovador de viola afinada.
Sou um cantor de canções desoladas
Que se perdem nos ouvidos do tempo.
Sou um assobiador de arias de amargura
Que se ouve longe nas noites escuras.
Sou uma folha seca voando no vento
Esquecida do seu verde do passado.
Sou um inocente sendo condenado
Aceitando sorrindo sua falsa culpa.
Sou um grito febril que não se escuta
Entre milhões de gritos sem razão.
Sou lucidamente imperfeito
Ou talvez um louco satisfeito.
Quem sabe ainda...
Um racional que não me aceito
Nem trovador de viola afinada.
Sou um cantor de canções desoladas
Que se perdem nos ouvidos do tempo.
Sou um assobiador de arias de amargura
Que se ouve longe nas noites escuras.
Sou uma folha seca voando no vento
Esquecida do seu verde do passado.
Sou um inocente sendo condenado
Aceitando sorrindo sua falsa culpa.
Sou um grito febril que não se escuta
Entre milhões de gritos sem razão.
Sou lucidamente imperfeito
Ou talvez um louco satisfeito.
Quem sabe ainda...
Um racional que não me aceito
terça-feira, 19 de julho de 2011
COMO QUEM JAZ
(Lembranças de Zé Canuto-Meu pai)
Não mais surpresas
Por isso o caminhar sem sobressaltos
Por isso a fronte paralela ao horizonte
Por isso o firme olhar e o muito siso.
O silêncio como argumento
Já que se rejeita aprender do que se fala.
Apenas mesmo o displicente ouvir
Que nem consente nem recusa.
Não mesmo mais surpresas.
Por isso essas ondas uniformes
A fluirem de sua mente que semelha repouso.
Por isso essa economia de gestos
Que faz seu corpo semelhar preguiça.
Não mais surpresas
Por isso o caminhar sem sobressaltos
Por isso a fronte paralela ao horizonte
Por isso o firme olhar e o muito siso.
O silêncio como argumento
Já que se rejeita aprender do que se fala.
Apenas mesmo o displicente ouvir
Que nem consente nem recusa.
Não mesmo mais surpresas.
Por isso essas ondas uniformes
A fluirem de sua mente que semelha repouso.
Por isso essa economia de gestos
Que faz seu corpo semelhar preguiça.
VÍCIO
Constante suplício.
Funesto companheiro
De turtuosas jornadas.
Maléfico acompanhante
De viagens frustradas.
Dor profunda
Travestida de falso prazer.
Plástica alegria
Prenúncio da mais cruel agonia.
Monstro silencioso
Habitante de pantanosos lodaçais
Às vezes exibindo brilhantes fantasias
Sai do mais podre lixo
Para o luxo de granfinos comensais.
Oh! vício:
Onde um DEUS que te suprima
Ou uma Deusa que te anule entre os mortais?
Funesto companheiro
De turtuosas jornadas.
Maléfico acompanhante
De viagens frustradas.
Dor profunda
Travestida de falso prazer.
Plástica alegria
Prenúncio da mais cruel agonia.
Monstro silencioso
Habitante de pantanosos lodaçais
Às vezes exibindo brilhantes fantasias
Sai do mais podre lixo
Para o luxo de granfinos comensais.
Oh! vício:
Onde um DEUS que te suprima
Ou uma Deusa que te anule entre os mortais?
segunda-feira, 18 de julho de 2011
SINOS DO ADEUS
Tocaram os sinos do ADEUS
Nada mais adianta.
Nem mesmo essa agonia
Nem mesmo esse pranto:
Fará reter
Quem deixou de amar
Ou talvez
Quem jamais amou.
Calaram os sinos do ADEUS
Agora só distancia e calmaria
E seus olhos - espelhos tristes
E seu coração - ferida eterna.
Agora só um silêncio de morte
E uma noite eterna se anuncia.
Mas o que importa
É o que o parasita do amor se vá
E que um dia morra de tédio
Se não aprender a amar.
Nada mais adianta.
Nem mesmo essa agonia
Nem mesmo esse pranto:
Fará reter
Quem deixou de amar
Ou talvez
Quem jamais amou.
Calaram os sinos do ADEUS
Agora só distancia e calmaria
E seus olhos - espelhos tristes
E seu coração - ferida eterna.
Agora só um silêncio de morte
E uma noite eterna se anuncia.
Mas o que importa
É o que o parasita do amor se vá
E que um dia morra de tédio
Se não aprender a amar.
NICE
Se eu te visse
Passeando entre nuvens
Não ficaria surpreso.
A sutileza que te cerca
Parece coisa natural.
Se eu te visse
Sendo conduzida como rainha
Num cortejo de festa
Estaria entre todos
Aclamando com ardor
Tua passagem.
Se eu te visse
Num ambiente etéreo
Cercada de emanações de paz
Entraria com cerimônia
Como quem busca um milagre
No templo em que reinaria como Deusa.
Se eu te visse
Numa noite qualquer
Entre as paredes nuas do meu quarto
Guardaria como um sempre
Esse momento de nunca esquecer.
Passeando entre nuvens
Não ficaria surpreso.
A sutileza que te cerca
Parece coisa natural.
Se eu te visse
Sendo conduzida como rainha
Num cortejo de festa
Estaria entre todos
Aclamando com ardor
Tua passagem.
Se eu te visse
Num ambiente etéreo
Cercada de emanações de paz
Entraria com cerimônia
Como quem busca um milagre
No templo em que reinaria como Deusa.
Se eu te visse
Numa noite qualquer
Entre as paredes nuas do meu quarto
Guardaria como um sempre
Esse momento de nunca esquecer.
domingo, 17 de julho de 2011
FATALIDADE
Existem prisões
Cujas correntes não se deixam ver:
Prisões presas em nós
Submersas em nossos abismos.
Soltam-nos os pés e as mãos
Porque sabem do nosso receio de andar
E da nossa impossibilidade de agir
Já que nossa alma é sua presa.
Existem mordaças
Que nos deixam livres a língua e a boca
Mas que nos oprime o peito
Onde se fabrica o grito.
Existem grades
Que não são feitas de ferro ou aço
Mas de nossas próprias fibras.
Existem abismos
Aos quais nos conduzimos
Com nossos próprios passos em falso
Na rota da vida.
Existem vidas
Que apesar de bem sentidas
São na essência
Destituidas de vida.
Cujas correntes não se deixam ver:
Prisões presas em nós
Submersas em nossos abismos.
Soltam-nos os pés e as mãos
Porque sabem do nosso receio de andar
E da nossa impossibilidade de agir
Já que nossa alma é sua presa.
Existem mordaças
Que nos deixam livres a língua e a boca
Mas que nos oprime o peito
Onde se fabrica o grito.
Existem grades
Que não são feitas de ferro ou aço
Mas de nossas próprias fibras.
Existem abismos
Aos quais nos conduzimos
Com nossos próprios passos em falso
Na rota da vida.
Existem vidas
Que apesar de bem sentidas
São na essência
Destituidas de vida.
RUAS E RUAS
( Às ruas de Riachuelo)
Rua nova
Rua do Canto
Rua do Cuminho
Rua do Brejo
Rua da Palha
Rua do Caixão
Rua da Lama
Rua da Rodagem
Rua da Salina
Rua da Aurora...
Envergonharam-se de nomes tão saudade
E à revelia
Das marcas marcadas nos seus leitos
Por pés que não sabiam que marcavam.
De ecos ligeiros de vozes e de correrias da infância.
De ecos lentos e surdos de notívagos...
Fizeram-se ruas de nomes tão sem graça
Que já me fogem à lembrança
Ou que nunca mereceram ser lembrados.
Rua nova
Rua do Canto
Rua do Cuminho
Rua do Brejo
Rua da Palha
Rua do Caixão
Rua da Lama
Rua da Rodagem
Rua da Salina
Rua da Aurora...
Envergonharam-se de nomes tão saudade
E à revelia
Das marcas marcadas nos seus leitos
Por pés que não sabiam que marcavam.
De ecos ligeiros de vozes e de correrias da infância.
De ecos lentos e surdos de notívagos...
Fizeram-se ruas de nomes tão sem graça
Que já me fogem à lembrança
Ou que nunca mereceram ser lembrados.
Réquiem
( celebrando a morte do
do que não conseguiu nascer)
Iniciei o difícil ofício de te esquecer.
Procurei em outros corpos anônimos
A textura deste corpo teu
Que jamais me permitiste tocar.
Difícil encontrar porém
A doçura que reténs no teu olhar.
Tento diluir tua lembrança
Pelos lugares onde andar procuro.
Quero deixar cada vontade de querer
Em lugares onde jamais pensaste passar.
Nos botecos de balcões toscos
Cuspidos pelos bêbados vulgares.
Nos cabarés de putas decaídas
Que recebem meu olhar de pena
Como se de desejos fossem.
Ah! se soubesses como te adoro
E de como me foge a esperança...
Talvez algo em ti despertasse
E verias que a tua morte anunciada
É apenas a natural necessidade
De te aninhares em meus braços.
.
do que não conseguiu nascer)
Iniciei o difícil ofício de te esquecer.
Procurei em outros corpos anônimos
A textura deste corpo teu
Que jamais me permitiste tocar.
Difícil encontrar porém
A doçura que reténs no teu olhar.
Tento diluir tua lembrança
Pelos lugares onde andar procuro.
Quero deixar cada vontade de querer
Em lugares onde jamais pensaste passar.
Nos botecos de balcões toscos
Cuspidos pelos bêbados vulgares.
Nos cabarés de putas decaídas
Que recebem meu olhar de pena
Como se de desejos fossem.
Ah! se soubesses como te adoro
E de como me foge a esperança...
Talvez algo em ti despertasse
E verias que a tua morte anunciada
É apenas a natural necessidade
De te aninhares em meus braços.
.
sábado, 16 de julho de 2011
VAZIO
Hoje
Procurei em vão
Os temas e as palavras
E a vida:
Meus olhos passearam inertes
E nada me disseram.
Minha alma
Esteve impenetrável às paixões.
A poesia me impunha sua trégua
E eu cruzei as ruas
Como se nada fosse.
Hoje
Fui a visão longínqua de um trem
Silencioso e vazio
Que passa vagaroso e macio
Na realidade-quase-sonho.
Fui a chama triste de uma vela solitária
Velando a morte de mim mesmo.
Hoje
Eu não fui como sou verdadeiramente.
Fui somente
A sensação angustiante de nada ser
E o desespero de quem se vê morrendo.
Hoje
Fui um estrangeiro em mim.
Procurei em vão
Os temas e as palavras
E a vida:
Meus olhos passearam inertes
E nada me disseram.
Minha alma
Esteve impenetrável às paixões.
A poesia me impunha sua trégua
E eu cruzei as ruas
Como se nada fosse.
Hoje
Fui a visão longínqua de um trem
Silencioso e vazio
Que passa vagaroso e macio
Na realidade-quase-sonho.
Fui a chama triste de uma vela solitária
Velando a morte de mim mesmo.
Hoje
Eu não fui como sou verdadeiramente.
Fui somente
A sensação angustiante de nada ser
E o desespero de quem se vê morrendo.
Hoje
Fui um estrangeiro em mim.
Sentimento Deus
Tudo poderá ser dito
E ainda será pouco.
As palavras só brilham
Até um ponto finito.
Tudo poderá ser sentido
E ainda será pouco.
O corpo tem um limte
Até mesmo pra dor.
Nenhum sorriso será o bastante
Para se comemorar a sua vida.
Nenhum pranto será o bastante
Para se chorar a sua morte.
Falo do amor -
Único sentimento
Que se parece com Deus.
E ainda será pouco.
As palavras só brilham
Até um ponto finito.
Tudo poderá ser sentido
E ainda será pouco.
O corpo tem um limte
Até mesmo pra dor.
Nenhum sorriso será o bastante
Para se comemorar a sua vida.
Nenhum pranto será o bastante
Para se chorar a sua morte.
Falo do amor -
Único sentimento
Que se parece com Deus.
Os Olhos
Os olhos
Não são apenas janelas
Para debruçarmos nossas melancolias.
São também escudos
Para nossas defesas insperadas.
Os olhos são reservas
Para submissão à nossa alma.
Ah! meus olhos...
Jamais se cansarão desse ofício
De me seguir pelas imagens da vida.
Ávidos às vezes
Se há condimentos de alegria.
Tristes quase sempre
Quando a razão me desce mais fundo.
Olhos vários em cores
Todos porém únicos em verdades.
Ah! os olhos...
Não são apenas olhos.
Não são apenas janelas
Para debruçarmos nossas melancolias.
São também escudos
Para nossas defesas insperadas.
Os olhos são reservas
Para submissão à nossa alma.
Ah! meus olhos...
Jamais se cansarão desse ofício
De me seguir pelas imagens da vida.
Ávidos às vezes
Se há condimentos de alegria.
Tristes quase sempre
Quando a razão me desce mais fundo.
Olhos vários em cores
Todos porém únicos em verdades.
Ah! os olhos...
Não são apenas olhos.
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